diário nº….

todo dia, na repartição, tudo é muito chato. o chiado do ventilador de teto em sua sonolenta rotação, o carimbo intrépido marcando papéis, o toque estridente do telefone da secretária e aquela risada irritante do Don Juan da contabilidade, ali, em volta do bebedouro. porra, esse cara nunca trabalha?

e a caneta, parada, em cima da papelada, como quem diz: “não fala nada, cretino. trabalhar que é bom você também não quer”.

é… é… fazer o que? como sempre, eu me distraio. com tudo e com nada, procuro distração. aperto as teclas do computador, formo palavras desconexas, escrevo seu nome do lado do meu 50 vezes, em um gesto infantil. abandono relatórios, não tenho cabeça pra nada, sinto calor e abro o botão da gola da camisa. as gotículas de suor escorrem e eu associo esse suor a atividades não apropriadas para o expediente.

ai, o suor. o calor da pele… divago… imagino os meus beijos no teu pescoço, um chupão leve, o pulsar das tuas veias. re-descobrir teu corpo com meus dedos. me arrepio. lambo os lábios, minha boca está seca. olho para um lado e para o outro, para ver se alguém me descobre no meu devaneio pseudo-erótico mas, aff! todo mundo está ocupado demais na sua rotina burocrática (menos o carinha da contabilidade, que está tomando seu décimo quarto copo d’água enquanto paquera a secretária) para saber o que se passa no meu infame cubículo.

então, visto que estou longe dos olhos alheios, retorno ao refugo da minha mente, minhas profundezas vermelhas – te desejo. imagino cenas sórdidas, algumas românticas, mas mais sexo e delírio mesmo. anseio. me mexo na cadeira, mordendo a boca. estou salivando agora, selvagem – não me conformo com teu amor de fim de semana, quero tudo agora!

ah! puta que pariu. maldito seja esse martírio do desejo encubado de segunda-feira.

now, your turn!